Artifício 
Artificium;
 1. meio artificial através do qual se produz algo; 
2. ARTE, INDÚSTRIA; 
3.aquilo que é artificial, falso, fingido.







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Este trabalho trata-se de uma recriação de uma obra com base nos artistas Fernand Léger, Hieronymus Bosch, Paula Rego e Edgar Degas. 





Fernand Léger
Fernand Léger, pintor francês que distinguiu-se como pintor e desenhista cubista, também foi diretor de cinema, cenógrafo, figurinista, designer e escultor. 
Em 1920 entrou-se na fase em que começou a representar a figura humana enquadrada por elementos industriais, como O Mecânico (figura 1), caracterizado por uma forte sobreposição de elementos e figuras geométricas, ou como Os Construtores (figura 2) em que a representação da figura humana é muito parecida com a primeira, em um fundo plano, geométrico e colorido com cores primárias. Por fim, O Homem com o  Cachimbo, em que já temos o "Homem industrial” representado em cinzentos e em formas geométricas.




Hieronymus Bosch
Hieronymus Bosch, nascido em Ducado de Brabante, foi um pintor renascentista. Suas pinturas caracterizam-se pelo simbolismo das cenas de pecado e tentação, com figuras obscuras e originais como, por exemplo, O Jardim das Delícias (figura 1 e 2), um tríptico que descreve a história do Mundo, apresentando o paraíso terrestre e o inferno nas laterais. Suas obras têm um sentido moralizador do qual critica com caricaturas e figuras maliciosas.



Paula Rego e Edgar Degas
Paula Rego, pintora e artista plástica portuguesa, representa em grande parte dos seus trabalhos memórias de sua vida como inspiração. A representação da figura humana é caracterizada pela robustez do corpo e das expressões faciais, tal como A Mulher Cão (figura 2), ou então, são bidimensionais, tal como os animais que são inseridos, normalmente um cão e um coelho, como vemos em O Grito da Imaginação (figura 3).
Edgar Degas foi um pintor, gravurista, escultor e fotógrafo francês conhecido, sobretudo, pela sua representação do ballet, sabendo captar a beleza e leveza dos diversos cenários, como o pormenor (figura 1). Ambos pintores têm como característica o uso do pastel seco como material





Análise
No âmbito do projeto de recriação de uma obra, com base nos artistas citados acima, representou-se um espaço de acúmulos, onde há a presença material e industrial, isto é, artificial. Com influência das obras de Fernand Léger, especificamente suas obras de 1920, representou-se a figura humana em tons cinzentos, com formas geométricas e sobrepostas umas às outras, das quais assemelham-se a metal e que acentuam a era industrial. No entanto, para além das figuras humanas, representou-se escadas e suportes de construção, sendo estes destacados com as cores primárias e um contorno contínuo a preto, além disso, têm uma representação plana, tal como o fundo, à maneira Léger.
A seguir, a temática e a composição do trabalho deu-se a influência das obras de Hieronymus Bosch, especificamente o Jardim das Delícias. Assim, fez-se uma representação de um dos sete pecados capitais, neste caso, a Avareza, que representa o medo de perder algo que possui, como bens materiais, conforme o catolicismo diz. Sendo o segundo pecado capital, vê-se duas pessoas descendo de uma escada, como se em cada pecado tivesse o seu próprio inferno, e estas vêm do primeiro pecado capital, ou seja, a gula, por isso são representados com um corpo corcunda, quase sem cor. 

Para além desses aspetos, o simbolismo está em toda composição em que temos várias figuras humanas que expressam dor, medo e fúria, e que são meramente cinzentas em um espaço quase vivo. Esta simbologia deve-se ao facto de que estas figuras são a própria personificação do Artificial, isto é, estão em um espaço totalmente artificial, mas que parece possuir mais vida do que as próprias pessoas, que são cinzentas, que se projetam no que é material, que possuem aparência, mas não têm essência.

Por fim, a nível figurativo, temos a única figura - não humana - que está em cores e que, de certa forma, é uma força de autoridade, o próprio consumismo em ser, como se por algum julgamento entre certo e errado, devorasse estes restos humanos-metais, meras máquinas que acabam por parar de funcionar. Procurou-se, assim, fazer uma espécie de crítica com a obra, tal como Bosch fez com as suas, em um sentido moralizador entre o consumismo e as pessoas.
Em seguida, por influências das representações do ballet de Edgar Degas, utilizou-se desse pormenor para caracterizar as figuras humanas, como se fosse um uniforme, sendo utilizadas para como um traje específico dos escravos/trabalhadores, como em quando uma dança em que todos estão no salão em sincronia, neste caso, são pessoas que dançam na própria desgraça. Depois, por influência das pinturas da Paula Rego, fez-se presente a figura do cão, no sentido de serem fiéis e leais aos homens e não à máquina, aqui são como “capangas”, julgadores que exercem bem suas funções. Além destes, também representou-se a Mulher Cão em uma das representações da figura humana, que carrega a fúria nas expressões faciais, e transmite sensação de ataque pelos gestos corporais. 


Este trabalho iniciou-se com uma série de esboços em que fez-se a partir da representação correta da figura humana, que foi-se simplificando cada vez mais até transformar em uma leitura que não tem de ser necessariamente de imediato, explorando o lado sintético e geometrizado dos corpos e, ao mesmo tempo, com expressões faciais que são simples e objetivas. Aperfeiçoou-se várias vezes o tratamento do material aplicado na obra, especificamente nas figuras humanas, neste caso, os acrílicos, que em primeiro lugar evidenciou-se pinceladas mais soltas e que depois passaram para algo um pouco mais plano, mas que é percetível profundidade e um tratamento de claro e escuro.
A nível pessoal, foi algo que tive imenso prazer de fazer desde o começo porque tudo surgiu de forma natural. Trabalhar com as obras do Léger foi algo incrível, como se fosse uma porta aberta para criatividade, onde não ficamos limitados à representação real do mundo a nossa volta, ainda mais mais juntando com o Bosch, pois percebe-se que as coisas que estão lá tem algum propósito, uma narrativa, igualmente quando falamos da Paula Rego, pois suas obras têm uma narrativa, seja algo subjetivo ou objetivo. Além disso, uma das parte que mais tive agrado foi as figuras humanas com traje de ballet, quer dizer, algo tão delicado em uma máquina tão rude que no final das contas representa a beleza artificial com que vivemos. Em outras palavras, este foi um processo que me deixou refletindo bastante sobre todos esses tópicos, e é isso que pretendo que a obra transmita.
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